quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Maio de 2008

Puta Alma.

Estou tão cansado
que às vezes quero tudo.
E dou minha alma para isso.
Mas ela, safada,
sempre insiste em voltar.

E eu adoro
E não quero mais nada.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Masturbação Poética.

Um versinho safado
Bateu na minha cabeça
Desde então,
Gozo décor.

Geminiano interior



Sou do zodíaco, mas sempre duvidei.
Ainda me mudo e me despeço
Dessas damas e cavaleiros do carrossel astral
Vou virar pai-de-santo em terreiro
Ou um marginal intelectual.

Sei que minto como falo a verdade.
Sou eu mesmo meu preferido adversário
Maior do que eu, só minha curiosidade.

Sempre é festa junina no meu aniversário.

Agudo até morrer.



Eu não sei quanto a vocês, mas quanto a mim, posso dizer que a palavra idéia sempre ganhará de presente o meu acento agudo. Há coisas que são bonitas do jeito que são, e sinceramente acredito, que a forma que algumas palavras são escritas carregam consigo alguma dimensão mágica. Eu até hoje acho que o acento agudo em idéia é quase como uma lâmpada se acendendo. Outro acento que eu sempre vou usar, mesmo que em algum momento nos seja instituído falar em inglês é o acento em cima de lâmpada, quase um abajur da palavra.

Eu sei, existem as questões gramaticais, etc etc etc, mas eu gosto dos acentos. Sua natureza é justamente acentuar, colocar em relevância (imaginem relevância sem acento?) e é justamente o que o pauzinho simpático (não é um amor esse deitar-se sobre a palavra?) faz com a palavra idéia.

Há muitas idéias que precisam ser discutidas, por mais inofensivas que pareçam. Fico sempre imaginando eu bem velhinho, ainda escrevendo no mundo das idéias. No plural fica ainda mais bonito. E uma juventude inteira sabendo minha idade só por que voluntariamente resistir bravamente à mudança. Pode parecer reacionário, não é? Mas às vezes o mundo muda e a gente quer que ele fique como ele está (por pior que isso seja...)

Mas tudo isso que digo a vocês, são só idéias vagas, que esse presente nos apresenta. Às vezes me pergunto se tirar acentos nos deixam com um ar inglês. E outra questão que fica: será que algum dia inglês também perderá seu assento de língua comercial? No sentido gramático, eu sei, assento é com c. Já no sentido político, seria no mínimo diferente imaginar uma corrida de brasileiros indo aprender chinês nas escolas de idiomas. Talvez um pouco assustador. Mas à mim? Não me assusto com nada mais.

Mas sobre acentos, infelizmente estamos cortando-os. Por facilidade, agilidade, adequação. Gostaria que algum dia as reformas fossem por poesia, e não só por realidade. Sempre dizem que é preciso facilitar as coisas, mas por que a língua? Não era mais fácil facilitar as coisas da vida, para que tenhamos mais tempo, para ler, escrever, amar, viver? Agora, há uma corrida pelas publicações novas, com a língua reformada. E lá se vão meus livros, virando peças de museu. E uma indústria inteira se readequando, criando publicações velhas com um novo português. Seria rentável, essa mudança? Vender novos dicionários a todas as escolas? enfim... as vezes o mundo não muda muito não é?

Eu sei, a mudança é pequena, mas ainda sim, me nego. Idéia, platéia, estréia. Estas três palavras são muito mais bonitas assim. E são palavras importantes, ainda mais para um autor. Escrever agora tem gosto de imposição. Pois nem ligo. Em 2070, quando estiver com 90 anos (se assim puder, oxalá!) vou escrever assim meu epitáfio:

“Que fiquem minhas idéias, por que o corpo já foi. Se até os acentos vão, por que não eu?”

E uma criança olhará sedenta de corrigir essa frase, por que o professor ensinou.

Ainda bem que já estarei morto, por que a mim, sou incorrigível moleque. Mesmo ultrapassado e mortinho.

Escrito em uma noite de verão... há 10 meses atrás.

Engarrafamento de sonho em uma noite só.


Conheci alguém,
Que foi atropelado de sonhos
Foram muitos, ao mesmo tempo
E na mesma noite
Morreu no sonho, coitado.
afogado por sonhos liquefeitos.

E quando acordou
Se sentiu cansado e angustiado
Voltou a dormir
Tentando ressucitar
Mas não funcionou

Sonhou com todos os seus algozes
Velando aquilo que era ele em defunto
dizendo calma, calma,
- O sonho ainda não acabou...
Enquanto Imagine tocava
Em um disco riscado.

Prega.

E o que seria de nós sem nossas fragilidades sedentas de fortalezas? E o que seria de nossa vida sem nosso completo desprendimento de errar, de parecer bobo, de parecer inocente sendo o mais consciente de nossa necessidade de ser criança sendo adulto, de nossa necessidade de ultrapassar limites mesmo que seja errado.  Todo mundo que vive realmente, que não passa em branco, quer saber o seu lugar no mundo mesmo sabendo que é um no meio de bilhões de pessoas. Nessa busca, acaba sendo extremamente desatinado consigo mesmo.  E é bom que seja.  Não ser comedido é bom por que assim sabe-se o que é escassez. Não gostar do que é limitado, do que é colocado como limite ao nosso sonho, do que é pecado, não gostar da hipocrisia cotidiana, que até nos faz viver em sociedade, e nos faz entender muito pouco sobre nossa capacidade e nosso desejo de ver realmente do que somos capazes, e não aquilo que querem que a gente faça da gente. Precisamos dizer do que não gostamos, sem medo.  Estamos imersos em uma sociedade que erroneamente se apega a moral em detrimento da ética, daquilo que erroneamente chamamos de integridade ao invés de desejo.  Somos seres feitos de desejo, somos seres completamente conscientes de nossa natureza instintiva e isso faz de nós seres medrosos, seres que têm tanto medo do medo, tanto medo de andarmos nus.  Que maravilha e que indecência é usarmos roupa.  Roupa é nosso disfarce cotidiano é nossa forma de nos mostrar é nosso desejo de subentendido é nossa forma de parecermos normais diante da consciência que negamos, de que só somos plenos diante de nossa loucura. Tenho um apreço a loucura, ao inconsciente, aos perdidos, aos que não se ajustam, aos que amam desmedidamente, aos que se entregam tão atarantadamente as compulsões, compulsos que são, em tentar entender, em tentar descobrir. Ai, qual lugar no mundo, o que eu vim fazer aqui? Para onde vai esse texto? Perguntar-se é uma prece que afirma.

Talvez alguma música adormeça essas palavras desnudas, tadinhas. Com tanto frio diante de olhos tão quentes. Alguma sociologia apenas me basta, não me emprega.
É uma prega essa vida. A ser rasgada.

domingo, 23 de agosto de 2009

Pra desvirginar... Primeiro post

Noite de domingo.


Ia meio tênue, em seu gesto, mesmo escondendo um vulcão absoluto.  E eram sempre noites de domigo. E nem precisava ser noite de lua cheia. Acontecia. Se transformava. E aquele domingo. Aquele domingo já demonstrava um sopro diferente. Quando sonhou que voava.

Limpou a casa. Ouviu música. Cozinhou. Consertou a bicicleta. Andou pela cidade. Conheceu lugares novos. João estava assim pleno do querer o desconhecido. E há quanto não andava de bicicleta por aí, ruando. Foi quando encontrou alguém na esquina. Já era noite, lembrava que acordara as 10h. Foi quando viu, ali, naquela esquina. Era um despacho. E paralisou quando viu aquilo.

Não se sabe por que, pensou em tanta coisa. Pensou sobre sua vida e viu-se assim, tão na esquina. E com um despacho! Diacho! O que eu estou fazendo aqui?
Pensava em Carolina. Com sua roupa branca, quando era pequeno. Era muito estranho o quanto as memórias são puxadas por momentos tão inusitados.

Parou a bicicleta e resolveu conversar.

 - E aí seu Exu, tudo beleza?

Não ouviu nada do outro lado, apenas um vento forte levantava uma peninha do outro lado da rua.

 - Aaaah... tá na pluma né?  Então tá tudo bem...


Um silêncio bom se apodera. Dá apenas pra ouvir os barulhos dos carros, numa avenida ao fundo.

João apenas se distrai, e vê uma formiga, carregando um pouquinho da comida pro santo. E pensa o quanto formigas são profanas. Devem ser filhas de Exu, então podem levar.  Mas pensa também que está em uma encruzilhada. Aquele momento na vida em que temos que virar esquinas. Mover-se ao desconhecido, por que de tudo já se conheceu.  João colhia aquele dia como se fosse tudo. E pensava, ainda hei de dizer. Dizer tudo o que o mundo havia feito pra fazê-lo chegar ali, naquela encruzilhada (com um monte de farofa, azeite de dende e carne mal passada) era exatamente tudo que ele queria devolver pro mundo. Como em algum transe, levantou, pegou sua bicicleta e pedalou-se. Amém Exu. Deus da comunicação. só pensou.

No caminho continuou com seu silêncio vulcânico de praxe. E no meio da lava que corria por dentro enquanto o vento corria por fora, um mantra lhe abateu. "Que há muita coisa a se dizer pro mundo."  E repetiu, isso muitas vezes."Que há muita coisa a se dizer pro mundo." "Que há muita coisa a se dizer pro mundo.""Que há muita coisa a se dizer pro mundo." feito prece. Só quando chegou em casa percebeu. Que havia conseguido. Havia dobrado uma esquina. Na noite de domingo.

No outro dia sabia. No que continuar.

24 de agosto de 2009

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