segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Agudo até morrer.



Eu não sei quanto a vocês, mas quanto a mim, posso dizer que a palavra idéia sempre ganhará de presente o meu acento agudo. Há coisas que são bonitas do jeito que são, e sinceramente acredito, que a forma que algumas palavras são escritas carregam consigo alguma dimensão mágica. Eu até hoje acho que o acento agudo em idéia é quase como uma lâmpada se acendendo. Outro acento que eu sempre vou usar, mesmo que em algum momento nos seja instituído falar em inglês é o acento em cima de lâmpada, quase um abajur da palavra.

Eu sei, existem as questões gramaticais, etc etc etc, mas eu gosto dos acentos. Sua natureza é justamente acentuar, colocar em relevância (imaginem relevância sem acento?) e é justamente o que o pauzinho simpático (não é um amor esse deitar-se sobre a palavra?) faz com a palavra idéia.

Há muitas idéias que precisam ser discutidas, por mais inofensivas que pareçam. Fico sempre imaginando eu bem velhinho, ainda escrevendo no mundo das idéias. No plural fica ainda mais bonito. E uma juventude inteira sabendo minha idade só por que voluntariamente resistir bravamente à mudança. Pode parecer reacionário, não é? Mas às vezes o mundo muda e a gente quer que ele fique como ele está (por pior que isso seja...)

Mas tudo isso que digo a vocês, são só idéias vagas, que esse presente nos apresenta. Às vezes me pergunto se tirar acentos nos deixam com um ar inglês. E outra questão que fica: será que algum dia inglês também perderá seu assento de língua comercial? No sentido gramático, eu sei, assento é com c. Já no sentido político, seria no mínimo diferente imaginar uma corrida de brasileiros indo aprender chinês nas escolas de idiomas. Talvez um pouco assustador. Mas à mim? Não me assusto com nada mais.

Mas sobre acentos, infelizmente estamos cortando-os. Por facilidade, agilidade, adequação. Gostaria que algum dia as reformas fossem por poesia, e não só por realidade. Sempre dizem que é preciso facilitar as coisas, mas por que a língua? Não era mais fácil facilitar as coisas da vida, para que tenhamos mais tempo, para ler, escrever, amar, viver? Agora, há uma corrida pelas publicações novas, com a língua reformada. E lá se vão meus livros, virando peças de museu. E uma indústria inteira se readequando, criando publicações velhas com um novo português. Seria rentável, essa mudança? Vender novos dicionários a todas as escolas? enfim... as vezes o mundo não muda muito não é?

Eu sei, a mudança é pequena, mas ainda sim, me nego. Idéia, platéia, estréia. Estas três palavras são muito mais bonitas assim. E são palavras importantes, ainda mais para um autor. Escrever agora tem gosto de imposição. Pois nem ligo. Em 2070, quando estiver com 90 anos (se assim puder, oxalá!) vou escrever assim meu epitáfio:

“Que fiquem minhas idéias, por que o corpo já foi. Se até os acentos vão, por que não eu?”

E uma criança olhará sedenta de corrigir essa frase, por que o professor ensinou.

Ainda bem que já estarei morto, por que a mim, sou incorrigível moleque. Mesmo ultrapassado e mortinho.

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