quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Quando o dicionário é a lingua do outro.

Escrever é meditar, para quando se está tranquilo. Tudo já passou, e agora, e como se estivessemos nascendo junto com cada palavra, com cada barulho de tecla batendo, estivessemos também escrevendo para quem quizesse ler. E considero que a cada momento, somos uma palavra, como se sempre estivessemos envolvidos pela a essencia de algumas delas, as palavras, tão belas e feias de serem ditas.

Minha palavra do momento: amor.

E assim, revendo minha vida, e revendo o mundo, eu vou tentando entedê-la, à vibração do outro. Sim, para se entender de fato uma palavra com a tessitura do vocábulo amor, é preciso sentir a vibração do outro. Assim como precisamos de um dicionário para qualquer termo desconhecido, precisamos desse outro, recíproco, que também vive essa enigmática palavra: amor.

Penso que não há dádiva maior, vivê-lo assim, palavras que se cumprimentam, que tem o mesmo som, mas que uma dita para a outra (um casal, por assim dizendo) é um presente de tal palavra, amor, que vai tornando os seres envolvidos em seres em revolução.

Amar é Revolucionar-se. Nem tem como não ser. Largar o passado, por que o presente te completa. E te complementa. E te faz querer mais, cada vez mais uma busca de satisfação divina, por que se há algo de divino em nós, é a nossa capacidade de amar. Difícil sim, sabemos. Mas exatamente por isso, nos agarramos, para que de nós, extraiamos o que de mais forte em nossa pequena passagem como humanos entre nascer e morrer. Se pudermos dizer, sem medo de sermos clichê, que amamos e fomos amados nesse entremeio, tudo valeu.

Amemos, senhores e senhoras. é assim mesmo. Às vezes o verbo conjugado parece feio, errado. Mas todos os tempos verbais da ação em questão são assim mesmos, diversos nos tons dos fonemas, tão vasto nosso português, nossa língua. Nossa lingua que quando se mistura a outra, ama como quem apenas sente o gosto da boca que se quer, por que dela, qualquer simples palavra, ressoa, como prece, como carinho, como cuidado, como desejo, como palavra para dar voz a pulsação.

Mas chega, falar de amor todos falam, e quando penso nessa palavra, penso em Carlos Drummond de Andrade:

"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar."

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vendo passarinho verde.

rapaz to caídinho.
coração tombou.
de tão verde o passarinho
que pra dentro de mim voou.

domingo, 15 de agosto de 2010

Barulhos Urbanos.

Como se tivesse passado por todas as provas do mundo finalmente encontrava um lar. Uma casa ampla, de luz do amanhecer em cima da cama, de chão de madeira e janelas grandes na sala para uma paisagem muy hermosa. Tá certo, um tanto rural demais, certo desmantelar com o verde, meio bordel de gente que se diverte a noite, mas de tão bom um interior que olha a azaléia no primeiro plano da vista.
O vizinho ao fundo abre a torneira. Do lado da casa, um posto de gasolina, e uma oficina mecânica. Mas a casa tem sempre música, por que seus novos habitantes são por demais expressivos para deixarem se abater pelos barulhos urbanos. Mesmo sob a pressão do funk do vizinho do meio do quarteirão ou da oficina mecânica.
Era casa viva essa. A vista dizia passarinho.

domingo, 23 de maio de 2010

Amor?

Quer fantasia e esperança maior do que amar de véspera? Feito criança, o dia de natal para ganhar presente. Se entregar por inteiro mesmo na primeira impressão, primeira sensação, uma palavra, um olhar, uma situação, um momento. Todo amor nasce de encontros. De histórias que se intercruzam. Para que dessa esquina, do primeiro beijo, deixe tudo claro. Tudo preciso.
Amor é preciso. E nada mais.
Eu sem amor, não vivo nada por inteiro. Vou aos pedaços. Tentando me juntar. E percebendo, que minha maior dor, é o meu maior caminho. Aceito esse caminho com responsabilidade, mesmo exercendo a loucura necessária para desvendar esse enigma sem resposta.
Amo o enigma. O que não se explica. O que não se acha resposta. O que é e o que é. Amor é assim. É por que é. Todo amor que se preze tem um gosto fantasia de destino. Feito aroma, essência, daquilo que imaginamos que é, mas não é, mas que é mágico, místico, fantástico, com qual sabor? Risos. Amor é o desconhecido, sempre, e por isso, sempre, a busca. Amor é a nossa cenoura amarrada na nuca, um coelho sempre em busca de uma comida que o faz buscá-la, incessantemente. Amor é infinito, por que não se conforma, sempre quer mais.
Amor é mudança junto. Amor é testemunho das mudanças. Amor é. E sempre pode ser o que não se explica. De véspera então, uma pura ilusão, ou mesmo, aquilo que mais se acredita sem nenhuma razão. Já diria Platão. Ou qualquer criança que o sinta. Um título que se pergunta, um ponto final que diga. Só no silêncio, terreno próprio de tal sentimento, que tal interrogação, por si mesmo, significa.

terça-feira, 16 de março de 2010

Ordem da Palavra

Há momentos na vida que é preciso entrar em greve de quase tudo, só para ver se alguma coisa muda. Greve, greve sim. Sabe aquele momento que você diz: ei, para tudo, isso não tá indo pro lado certo, é pra cá, vem prá cá, aí é o lado negro da força, aqui não, aqui a gente caminha, xinga o governador, diz que tem direitos...
Mas ando em greve de tudo. Tão em greve, que não escrevo mais uma palavra se quer, coloquei todas as safadas para exercerem a sua função de palavra de ordem: desse jeito: bem cadenciado: "Cadê minhas férias! Governador! Mes de janeiro é um direito e não favor!" Sim... ando dado a inventar palavras de ordem. Faz bem canta-las na passeata e ver todo mundo repetindo, por que entendeu...Greve é uma coisa difícil, ainda mais de professor de escola pública, tão espancado. A mídia te espanca, o Estado te massacra, e você só consegue pensar em como conseguir seu aumento, em como dar aula, em como continuar vivendo com esse salário lanche ônibus-coxinha-refri-ônibus. Uma hora mudo de emprego, deixo de ser professor. Passo a vender palavras de ordem para a greve do dia, feito ambulante vendendo latinha de cerveja no meio da passeata.

domingo, 7 de março de 2010

A Torre e a Sacerdotisa no mundo de Narciso.

Estava então fazendo sua passagem. As lágrimas não eram mais as mesmas, nem tampouco, os tempos idos. Os pesos de cada coisa agora tinham a tessitura da vivencia que o acompanhara. Não dava pra saber se por isso as coisas eram mais densas, mais cheias de contradições, mas sabia que tudo tinha um motivo. Uma sensação de jornada, de epopéia lhe acompanhava desde criança, então isso não havia mudado. Deitado no chão do banheiro, deixando o chuveiro desmantelar-se em poucos pingos, abandonava aquelas lágrimas estranhas, que desconhecia por sua maneira de brotarem. Naquela vontade que talvez seja o seu núcleo, a sua entranha, o seu fundo, buscava reconhecer tais lágrimas, curiosidade inutil, só gerava apenas mais algumas pingos, feito os textos que escrevia esporadicamente. Era hora de levantar.
Mal enxugado, pois-se no espelho, e só via uma superfície branca no lugar do reflexo. Meio sem entender, o que teria feito aquele sal mole com seus olhos, parou apenas e respirou. De olhos fechados o branco do espelho, do não reflexo lhe abatia, o que fazer com tudo aquilo vivido, com toda a sorte de sentimento e de desprendimento, de fuga e de enfretamento, que havia passado? Qual seria o final da jornada, tão grande e tão extensa, que só podia ser sua ultima vida na terra, seu ultimo aprendizado, talvez por isso o mais difícil.
Pensamentos difíceis aqueles, cheios de redemoinhos, como aquela sua barba por fazer. Uma imensidão de palavras pulavam de um lado para o outro, como se quisessem escapar ilesas de tais tentativas, de tentar entender, de tentar entender. O banheiro era um lugar de coisas intimas, bonitas e feias, mas era o lugar reservado pra nudez. E nu, despido de qualquer farsa, atinava com seus botões imaginários como seria se fazer inverter. Mostrar toda a força que tinha por dentro,sem se esmaecer por fora, mas sim, se tornar vivedouro ao vento. Sem nenhum intuito de se tornar um mártir, um revolucionário, um líder, um popstar, mas alguém tão alguém que ninguém saberia por onde começaram aquelas mudanças que queria pro mundo, e que já sentia dentro de si.
Levado pela palavra caida, enxugou-se na toalha recolhida do chão, fechando os olhos. Pensou fundo, tentando achar aonde por dentro, tentando ver por meio de reza, aonde é que nascem nossas lágrimas, por onde brota o líquido. Imaginava com todas as forças, que essa seria a ultima lágrima, que restauraria tudo dentro de si, sendo capaz até de alterar aquela brancura seca que via no espelho. Aquela ultima lágrima o libertaria do passado, e o faria reflexo de si, com aquilo que ele tivesse se tornado. Com qual cor pintaria o espelho a derradeira foz? Desconfiava que era apenas um daltônico da alma, já com um alto e leve sorriso.
Imaginou o liquido brotando, em um pequeno canal, atrás de seu olho, e sentiu devagar pequenos sulcos que levam tal lágrima a despencar do olho. Algo ardia, algo aliviava. E ela veio, triste de tanta sede de felicidade, que inundou o globo ocular e caiu rápida, atingindo rápidamente o queixo, em um deslizar perfeito pela bochecha. Abriu os olhos, primeiro viu tudo um tanto azulado, quase como um negativo de foto, e o foco aos poucos foi também trazendo as outras cores e o espelho congelou naquela primeira imagem depois de atingida a gota d´água, por quanta sorte era estar vivo, assim, nu, com seus olhos vermelhos e sua cara de espanto. Os olhos apenas relaxaram um pouco, ao ver que tudo é como sempre foi, reconhecendo sua nova forma. Olhando no espelho, era só mais alguém chorando. E que agora se via. De fronte a tudo que desejava ardentemente pra vida. Solto, renascido, era mais uma mina de um recomeço de alma para si mesmo. Vazante, assim, algum futuro possível. Olhou calmo para as prateleiras do banheiro e soube a primeira ação depois de tudo.

Era um pouco de colonia de alfazema para o novo rumo que acabara de nascer.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Literatura Infantil





Uma criança estirada
No carpete de uma livraria
Não é nada.
É só o esquecimento do shopping.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Primeira de 2010...

Pirilampópolis.


Como estrelas assanhadas
No céu salpicado da mata
Vive a cidade de Pirilampópolis.

Com seu trânsito emerge
Asas de luzes namorando
Um acende e outro segue
Pirilampo com Pirilampa ficam pirilampando.

Mas entre eles o amor era luz acessa
Um pisco que eu te pisco também
E eram tão bom ser assim, inseto estrela
Que luz do mesmo sexo amar mesmo convém

Amor de pirilampo pode ser passageiro
Feito facho de luz cadente
Mas sempre sabe que o tempo do escuro apenas é
O entremeio de um pisca-vida ardente.

E em Pirilampópolis alegria livre não faltava
Tantas bundas acesas, e olhos que as seguem com ardor
Se o perseguido pisca rápido duas vezes
Já é o bastante para quem segue ter pane no interruptor.

Se pudessem filmar com seus flashs
Toda volúpia e todo furor
Pirilampópolis seria pra sempre
A capital dos filmes de amor...

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